Perdoo-te por tudo o que nos afastou e pelo que impediste que nos aproximasse.
Perdoa-me esta forma de te tratar. Este desrespeito de te tratar por tu.
Sabe mãe, você... perdoa de novo.
Você? Não se fala assim com a mãe! Ficavas tão ofendida. Nunca entendi. Nunca te entendi.
Você nunca me entendeu. Desculpe mãe. A mãe nunca me entendeu.
Estou a falar com uma estranha.
Nunca me entendeste e agora que não me ouves vou acabar com a deferência que me exigias, para te sentir mais perto de mim.Vou falar-te assim porque como tu, também sou mãe e sou avó.
Esqueci a Mulher para ser Mãe. Deveria ter sido as duas ao mesmo tempo, mas falhei.
Esqueceste a Mãe por necessidade de seres Mulher. Perdoa-me outra vez, falhaste também.
Se tivesses sido Mulher eu tinha perdoado, mas foste apenas mulher e preteriste a Mãe, mais tarde a Avó. Como nos fizeste falta. Ainda fazes!
E o que perdeste? Sim, não sei quem perdeu mais. Não deste... não recebeste!
Era difícil olhar dentro de ti. O teu olhar, na defensiva, não o permitia. Que escondias? O que não querias tu mesma ver em ti?
Quiseste iludir os demais porque essa ilusão te alimentava a vontade de teres sido o que não conseguiste.
Assististe à minha morte e ajudaste-me a matar-te. Quando tentaste socorrer-me era demasiado tarde. Não te dei tempo.
Ainda caminho sobre a terra que me deu vida. Tu, mãe, já te confundiste com essa terra que ainda trilho descalça, para te tocar como nunca deixaste.
Os sentimentos conturbam-se. Agora que te matei, preciso de ti para te amar, quero ensinar-te a conhecer-me, para juntas entendermos o vazio do amor que nos fugiu.
Agora que já tens tempo pensa em nós e ajuda-me a não te perder para sempre.
Vem ao meu encontro, não me peças que te procure. Vem mãe, que te espero. Ensina-me o Amor.
Aceita este presente que nunca foste capaz de desembrulhar e um beijo na tua face gelada, sem cor nem forma.
Hoje estou ao teu lado, não me abandones.
Feliz dia, Mãe!